12 de out. de 2009

7

Em alguma sexta-feira passada...
Pouco trabalho no escritório. Novo corte de cabelo. Treino árduo de Judô. Volto a minha casa e encontro minha mãe no portão. Ela também exibe um novo corte de cabelo. Ela veste uma blusa amarela. Eu estou de camiseta amarela. As coincidências me assustam bastante.
Carrego sua bagagem até a suíte. Por mais que eu viva sozinho nesta casa, eu ainda não tive vontade de mudar para aquele cômodo, mesmo que seja mais espaçoso e possua um banheiro próprio. Pergunto como foi a viagem, como vai o restante da família, como está minha sobrinha e demais eventualidades que sejam interessantes para que me as conte.
Ela exibe um ar de estafa. Sei que não é por causa da viagem. Imagino que ela veio apenas porque quis fugir das confusões domésticas, agora recorrentes desde que minha irmã, meu cunhado e minha sobrinha se mudaram para o sítio. A paz do campo deu lugar a um campo de batalha.
Meus pais vivem em um sítio na região de montanhas do Estado. O clima é agradabilíssimo: temperaturas deliciosamente europeias o ano inteiro. Sempre durmo de cobertor quando os visito durante o verão. Aliás, eu deveria aparecer por lá com mais frequência.
Ela liga a televisão. Pergunto se ela está com fome.  Após a resposta afirmativa, abro a geladeira e percebo que não há nada a ser oferecido. Saio para trazer alguns pães e alguma coisa ou outra para acompanhamento. Ela sorri com uma feição de alívio, tranquilidade mesmo.
De volta a casa, preparo-lhe um belo sanduíche com suco de frutas à base de soja. Enquanto comemos, ela diz que precisa conversar comigo sobre um assunto muito sério. De repente, o aspecto de seu rosto, antes calmo, parece um tanto quanto grave. Pergunto-lhe se é algo grave e ela, secamente, responde que não. De novo, sorri da mesma maneira de antes.
Começo a preocupar-me. Deixo minha mãe aos cuidados do Jornal Nacional e vou tomar banho. A água escorre sobre meu corpo enquanto minha mente discorre sobre a dúvida quanto ao teor da conversa vindoura. Sou facilmente assombrado pela possibilidade de falarmos sobre um tema tão espinhoso quanto controverso para mim.
Sou gay, mas minha família não sabe. Caso já saiba, não foi através de mim.
Ela me chama. Pausa para os comerciais. Minha mãe fixa bem o olhar sobre mim como se medisse toda a minha extensão e dá início ao diálogo, sem titubear:
— Liguei para um número desconhecido ontem e sabe quem atendeu? O Pablo. Ele foi tão rude comigo. Falou de coisas que não merecia ter ouvido da boca dele. Foi horrível, meu filho.
Eu estou em choque. Só de ouvir novamente esse nome, eu já percebo que as minhas ilações pareciam estar corretas. Pablo é um conterrâneo que morou, por alguns meses, na mesma república que eu morava, sendo expulso de lá por ninguém gostar dele. O fato de ele ser homossexual assumido era algo até constrangedor a nós, mas inadmissível foi mesmo sua atitude arrogante e seu caráter mentiroso conosco. Para meu infortúnio, esse pulha conseguiu descobrir evidências da minha verdadeira orientação sexual, todavia, não teve oportunidade para utilizar isso contra mim. Não teve até agora...
Eu pergunto a minha mãe por que isso ocorreu. Ela prossegue:
— Sua tia passou esse número de telefone, então eu liguei. Aquele rapaz mal educado nem sabe atender alguém! Fui perguntar de quem era aquele telefone e ele veio com grosseria comigo. Eu queria saber do meu processo no Instituto de Previdência, só isso. Maldita hora que liguei para ele!
Fico mais aliviado por saber que o motivo da conversa era outro, só uma tempestadezinha em copo d'água. Deixo minha mãe prosseguir com o seu desabafo:
— Quando eu falei que só queria saber se ele podia me ajudar com o processo no Instituto, ele baixou um pouco a crista e disse que veria o que ele poderia fazer. Bichinha desgraçada! E foi meu aluno, vê se pode? Mas sempre soube que ele não prestava, não mesmo.
— Calma, mãe, vai ver que ele estava só de mau humor...
— Ah, meu filho! E eu tenho lá culpa se ele está assim ou assado? Eu disse que agradecia pela oferta de ajuda, mas que eu mesma ia lá dar um jeito no meu processo.
Enfim, busco chamar a atenção dela para a volta do telejornal. Depois, conversamos mais um pouco sobre amenidades. O tempo corre macio até chegar a hora de ela tomar os remédios e, em seguida, cair na cama. Eu  me perco em meus pensamentos outra vez. Tanto tempo se passou e eu ainda temo que algum segredo do passado meu venha a perturbar a minha vida atual. Pior: esse segredo, de passado, tem absolutamente nada. É presente, é cotidiano, é frequente. Lido com sua vontade de emergir a superfície com dificuldades cada vez maiores. Um fardo pesado, tenso, difícil de ser carregado. Aliás, acredito que o dia, em que revelarei parte de quem eu realmente sou, se aproxima. É, eu sei, inevitável.
Contudo, deixo que minha mãe durma tranquilamente por hoje. Eu espreito seu sono pela fresta da porta, quando um suspiro me escapa dos lábios. Um dia, eu contarei tudo a ela, um dia...
Apenas espero que, nesse dia, eu possa contar com ela também.

2 de out. de 2009

6

Do you know Frank Sinatra? He’s dead.”¹

Não, não está morto para mim. Pelo contrário, ele está vivo em minha mente, uma vez que tenho que admitir: Frank Sinatra é o meu homem ideal.
Não por aqueles olhos azuis (e que olhos azuis!), mas sim o modo como ele cantava. Seu jeito singular de interpretar as canções realmente me hipnotiza cada vez que o escuto em meu quarto.
Suas canções, de certa forma, remetem a um tipo de romantismo que anda em baixa atualmente: encontro de estranhos que se apaixonam ao primeiro olhar; declarações de amor sem qualquer embaraço; alegria de viver livre, leve e solto; ou tristeza de quem é abandonado à própria sorte sem o carinho de quem mais se deseja...
As letras de suas músicas guiam meus passos quando atravesso o campo afetivo. Tento compreender a extensão do que é o amor através do que Sinatra me diz. Parece que ele sabe exatamente o que falar, como falar e quando falar, se o assunto é a conquista. Aposto que Sinatra sabia como arrebatar qualquer coração arredio aos seus encantos.
Ele possuía o melhor do charme masculino, além de ter sido um dos homens mais atraentes quando era jovem (alguns afirmam que, à medida em que envelhecia, se tornava cada vez mais atraente). Por mais que alguns possam contestar minha opinião, citando atores muito mais bonitos, como Burt Lancaster, Montgomery Clift ou James Dean, eu acredito que beleza e sensualidade não sejam, essencialmente, parceiros inseparáveis, tanto que tenho plena consciência de que não sou bonito. Todavia, nem por isso deixo de tentar ser galanteador para quem me atrai.
Aliás, quando desejo muito conquistar alguém, recorro a Frank Sinatra. Busco prender a atenção de quem tenho interesse em algo além de uma amizade ordinária através de vários artifícios, que oscilam entre os mais virtuosos aos mais voluptuosos. Contudo, dentre todos eles, aquele que considero, com certeza, o mais significativo para mim é interpretar alguma canção de Frank Sinatra para meu objeto de desejo.
Canto muito mal. Mesmo assim, tento cantar com tanta paixão, com tanta fé naquilo que estou a fazer, que soa até meigo, nada mau, segundo o querido ouvinte da ocasião.
Assim, muitas vezes, funciona. Quando não, não me desespero, tampouco me abato. Sei que existem plateias mais ou menos exigentes, só depende de mim encontrar aquela que aplaudirá minha performance no final e pedirá bis. O amor da minha vida não precisa ter olhos azuis, porque sei que nunca haverá mais um par igual àquele cujo dono, sem dúvida, foi ímpar...
Enquanto não encontro esse que será meu público cativo, continuo a cantar Sinatra para quem quiser me ouvir. Talvez, assim, eu descubra em qual de suas canções está escrita a minha história de amor.

¹Música de Miss Kittin & The Hacker, um dos mais importantes hinos do Electroclash.


P.S.: Tomara que minha tão aguardada história de amor seja algo como "Strangers in the Night"

30 de set. de 2009

5

Escrever sobre felicidade. Qualquer uma.
Mas como posso agarrá-la se ela teima em desaparecer da minha vida como num passe de mágica? Gostaria tanto de arquitetar o plano perfeito para sequestrá-la de uma vez por todas: assim, nem me preocuparia em pedir resgate.
Se bem que podemos pedir um resgate de grande valor quando estamos melancólicos. Dias felizes só existem porque são antecedidos por dias tristes, ou tudo não passaria de marasmo. O que mais detesto é o marasmo, muito mais do que a tristeza ou a desilusão.
Falar de felicidade é também falar de tristeza. Todavia, não quero aqui relatar algum relacionamento urdido pelas saudades ou pelas mágoas. Serei mais egocêntrico.
É impossível ser feliz sozinho...”¹
Verdade. Ok, eu me rendo a esta verdade tantas vezes repetida numa novela de Manoel Carlos.
Enfim, outra sexta-feira à noite, mal esperava as horas passarem para que eu pudesse encontrar meus amigos. Vontade de dançar até desmaiar. Vontade de sorrir até chorar. Vontade de amar até... desabar! Três desejos facilmente realizáveis para qualquer gênio de lâmpada. Neste caso, lâmpada de luz negra, strobbles e algumas luzes coloridas. Algumas músicas que eu sussurrava bem baixinho para que ninguém soubesse que eu tinha um inglês sofrível, enquanto meu corpo se movia de acordo com as ondas acústicas que iam e vinham tal qual um mar de sensações que inundavam meu ser feito de praia. Naqueles dias, eu era tão litorâneo e permeável. Ah! Atualmente, meu corpo é bem menos plano, quase montanhoso.
A balada terminou relativamente cedo. Muito embora divertidíssima, não atingiu a quantidade de público esperada. Sem atitudes desesperadas, incitei aos amigos que continuássemos no apartamento em que eu morava, uma kitchenette localizada próxima dali. Ou seja, seria bem fácil levar os equipamentos, mesmo que não coubessem direito dentro da minha sala.
Três da manhã, já estávamos todos em meu humilde lar, empurrando o sofá para um lado, a estante para o outro canto, assim abrindo espaço para a nossa própria festa. Engraçado que o pessoal responsável pelo som não chegava. A impaciência tomava conta de nós até que um amigo notou que o interfone estava fora do gancho. Desfeito o mal entendido, éramos aproximadamente onze pessoas dentro de um cubículo.
Minha sala acabava de transformar-se numa boate de respeito, com direito a telão e toda a iluminação necessária. Dançávamos ao som de hits da década de 80 até à mais fina flor do eletrônico da época, com algumas pitadas de rock, porque não éramos de ferro. Entre Sucos Gummy² e outras bebidas, conseguíamos sentir o clima de sensualidade e de prazer enquanto nossos corpos quase se derretiam quando nos tocávamos despropositadamente.
Manhã de sábado e alguns se despediam. Tudo bem, era momento propício para descansar e conversar um pouco. Entre os que ficaram, o assunto predominante foi sexo. Mesmo que eu estivesse num meio heterossexual, a lascívia daquele instante não me permitia ficar excluído daqueles temas picantes. Um casal de amigos estava com um intenso desejo de realizar uma fantasia: fazer sexo anal no meu banheiro! Claro que os incentivamos até que eles se trancaram lá. Um outro casal foi para o quarto, enquanto o casal de amigos produtores dormia abraçadinho no sofá apertado. Restávamos eu e Laura, que insistiu em dançarmos um pouco mais.
De pouco em pouco, já nem dançávamos: nossos corpos se grudaram um ao outro enquanto nossas bocas, línguas e respirações se misturavam. Aquela celebração de vida que ocorria em meu apartamento ignorava até minha orientação sexual. Sim, eu já tinha plena consciência que era gay, mas tudo conspirava a sexo e eu já estava completamente entregue ao que desse e viesse. Não retive na memória o que deu e veio. Acordei de cueca, abraçado ao corpo dela, num dos colchões jogados no meio da sala. Engraçado que eu não esqueci de umas rimas que Laura repetiu tantas vezes enquanto estávamos somente conversando como bons amigos:
Ninguém me ama, ninguém me quer; ninguém me chama de Baudelaire...”
Eu devo ter chamado Laurinha de “minha doce Baudelaire”. Pior, se eu levar em conta de que tenho uma língua solta para pieguices românticas, nem duvido que eu, provavelmente, disse que a amava. Aquelas três palavrinhas mágicas (isto é, “eu te amo”) são facilmente extraídas de meus lábios. Não por causa da banalidade, mas sim porque eu não vejo sentido algum em guardar esse sentimento tão bonito mesmo que eu tenha certeza de que dure por tão pouco tempo. Amor deveria ser sentido e não ter sentido: é coisa para o presente e não um presente a ser dado em alguma data comemorativa ou circunstância futura.
Fim de tarde de sábado, todos já estavam de pé. Alguém foi à padaria e trouxe alguns pães e frios para beliscarmos. Gostosa aquela sensação de ter minha casa invadida por pessoas de quem eu gostava tanto. Ficamos um bom tempo assistindo a uma série de videoclipes no telão, enquanto um dos amigos se preparava para tocar numa Rave logo mais tarde. Parecia que chegávamos ao fim da festa.
Horas passando depressa e já estávamos com fome de novo. Alguém falou sobre pedir algo para comer. Eu, de súbito, disse que queria comer Laurinha, mas fui voto vencido. Ela, contudo, sorriu. Enfim, pedimos comida chinesa.
Depois da última refeição, ficamos dispostos a ajudar aos amigos produtores guardando toda aquela parafernália dentro de seu carro. A sala voltava ao seu cotidiano, assim como os outros cômodos da kitchenette.
Uma tristeza apertava meu peito a cada despedida. Beijos, abraços, apertos de mão, acenos soltos no ar. Então, sozinho de volta àquele apartamento, percebi que meu coração não queria mais saber de bater: só queria dançar, mesmo que não fosse conforme a música.
Naquela época, eu deveria tê-lo inscrito em alguma aula de dança de salão para que aprendesse a dançar com um par. Pois, verdade seja dita, é impossível ser feliz sozinho.

¹ Wave - Tom Jobim.
² Bebida preparada à base de vodca, qualquer tipo de suco em pó e bastante gelo (eu acho).

Entre Aspas: "Selo №1"






Ganhei meu primeiro selo e não sei o que fazer com ele: sou novato neste universo, daí que não sei ao certo como reagir a isso. Tentarei ser o menos ingrato possível e seguirei à risca o que determina as regras deste selo.
Hã... lá vai!

1. Linkar a pessoa que te indicou:
    Cocada.g  [ http://cocadag.blogspot.com/ ]

2. Escrever as regras do selo em seu blog.
    Feito

3. Contar 6 coisas aleatórias sobre você:

     I. Eu pareço mais jovem do que sou realmente.
     II. Amo cozinhar.
     III. Canto para os contatos do meu msn.
     IV. Odeio ficar vestido dentro de casa.
     V. Eu sou bastante inseguro, mesmo que aparente ser impetuoso.
     VI. Sempre tento apreciar o por-do-sol onde quer que eu esteja.


4. Indique mais 6 pessoas e coloque os links no final do post:
     Jamylle Carvalho
     Ausência Instável
     Ryan Zamperlini
     Mescla de Culturas
     Cibelle Queiroz
     Well Bernard

5. Deixe a pessoa saber que você o indicou, deixando um comentário para ela.
     Comentários em construção...

6. Deixe os indicados saberem quando você publicar seu post.

     Claro, claro...

Links
     Jamylle Carvalho 
     Well Bernard

28 de set. de 2009

4

(Tempos atrás, contei esta história a uma amiga. Uma história banal de amor...)
O amor teima em nunca estar no presente. Coisa do passado: coisa de quem passava na minha rua sem me perceber ali parado no portão pronto para dar Bom Dia. Bons dias seriam aqueles, se não fosse o silêncio entre nós um muro que separava nossas casas na mesma rua. 
“Se esta rua, se esta rua fosse minha,
Eu me mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas bem brilhantes
Para o meu... para o meu amor passar...”
Ele passava todos os dias aqui, mas a rua não era minha.
Tudo começou com aquela atenção aos detalhes. Atenção não, tensão. O encontro dos olhares eram sempre tensos... Intensos, mesmo que fossem sem qualquer intenção. Dois seres que conjugavam o mesmo verbo. Estar no mesmo lugar ao mesmo tempo. A mera coincidência, de fato, me assustava.
Vivia com minha avó. Sua melhor amiga a visitava constantemente. Nessa constância, conheci seu filho caçula. Na verdade, já o conhecia por questões apenas de educação: Bom Dia, Boa Tarde, Boa Noite. Costume de cidadezinha do interior onde todo mundo se conhece. Mas, pude conhecê-lo de novo, melhor. “A felicidade está na ignorância” – diria algum filósofo pessimista: o conhecimento me trouxera a felicidade do amor mesmo que isso tivesse como consequência encarar a tristeza.
A seqüência de gestos delicados nos fazia mais próximos, até que as mãos, que tanto gesticulavam, tocaram-se. As conversas de janela a janela se intensificaram tanto que, em dado momento, emudecemos: de tão próximos, nossas bocas se encontraram. Um beijo. Um abraço. Um “Eu te amo” escorregando lentamente entre nós dois como se fôssemos nós da mesma corda bamba que nos prendia e nos amordaçava. O silêncio depois de tantas conversas foi um alívio para quem, como eu, não tinha mais assunto para puxar.
Tudo tão familiar. Sua mãe e minha avó, viúvas alegres, saíam para o grupo da terceira idade para divertirem-se, enquanto nós dois podíamos gozar de segredos numa cidade minúscula como essa. Porém, sempre me questionava:
Por que segredos machucam tanto? Não se podem engolir a seco segredos por muito tempo, pois se igualam a querer devorar, famelicamente, um prato de cacos de Duralex®. A duras penas, almoçava e jantava essa iguaria para fingir que nada acontecia no outro lado do muro.
Nunca me senti tão Berlim Oriental...
Neste caso, o muro não caiu. Ele queria cair em si e nada mais ter do que cada vida em seu devido lugar. Eu queria dar lugar a novas coisas que deveríamos ter. Nunca tivemos. Talvez, tivemos sim, mas foi tão passageiro... Ele então passava pelo portão sem me dar Bom Dia, Boa Tarde ou Boa Noite. Eu espreitava o movimento da rua pelas grades de ferro, em busca de algum sinal seu, mas nada! A rua esvaziava-se de pessoas e de sentido, enquanto eu me enchia de frustrações.
Ele tinha afazeres mais pesados do que os meus. Eu estava aos cuidados de minha avó, pois o objetivo era ter um ambiente tranqüilo para que eu descansasse, estudasse e meditasse. Ele precisava cuidar da fazenda da família sozinho. Minha família tinha um sítio, mas eu era pouco necessário lá. No entanto, ele tinha que estar lá, na fazenda, sempre presente. Eu pensava nele como um presente dos deuses, porém, no fim das contas, era só um presente de grego. Nem parecia um deus grego... mesmo assim, eu o adorava.
Alguns encontros tivemos na sua fazenda. Pegava minha bicicleta no intuito de fazer exercícios. Mentira! Ou melhor, verdade sim: eu exercitaria o amor. Quilômetros e quilômetros percorridos, chegava suando. Suando frio. As manhãs eram bastante frias lá. Mas, logo ele me aquecia com abraço dos mais calorosos que tivera na minha vida inteira. A minha vida inteira passava pelos meus olhos e me perguntava por que fui conhecê-lo só agora. Mas então... tudo dissipou-se como névoa da manhã que não conseguia firmar-se perante a luz do sol. 
Ele plantava café. Enquanto eu subia em direção ao cume de um morro onde sabia que lá ele estava, notava os cafezais lotados de grãos maduros. Queria-os em flor: coisa de amor que sempre nos faz desejar tudo à flor da pele. Ah! Tudo deveria ser flores... 
Contudo, um dia, sem mais e nem menos, ele me disse não.
Nem sabia por que não. Existiriam razões mais secretas do que nosso próprio segredo?
Algo que nem compartilhar comigo ele quis. Eu não entendi porque não contar. Eu que sempre prefiri contos a romances, percebia que esse romance nem tinha se estendido ao ponto de tornar-se um romance. Nem tinha um apelo televisivo para ser novela. História de pouca trama. Talvez, o amor desfiasse mais fácil se não fosse bem tramado. Então acabou... acabou sim. Assim, como se ele não conhecesse o significado de “The End” nos filmes hollywoodianos, pois os mocinhos deveriam terminar juntos. De fato, ele não conhecia mesmo isso. Eu acho que ele preferia a felicidade de ignorar tudo isso que eu tanto cultivava.
Eu, sem chão, decidi cortar o mal pela raiz.
Ainda bem que esse amor durou menos de um mês. Parece pouco tempo, sei. Mas, para mim, que nasci sob o signo de Áries, até que foi bastante.
Hoje em dia, quando visito minha avó, volto àquela janela, mas os sentimentos não voltam com ela. Quando o encontro, por educação, dou-lhe Bom Dia, Boa Tarde ou Boa Noite. Por outro lado, ele deve ainda ter um “Eu te amo” engasgado, pois algum nó parece amordaçá-lo quando ele tenta puxar algum assunto. Antigamente, resolvíamos a falta de assunto com um beijo. Agora, eu apenas sorrio e fecho a janela.

26 de set. de 2009

3

Acordei cedo, tomei o café da manhã e deixei o quimono já arrumado dentro da bolsa. A primeira luta oficial de Judô seria hoje. Não existia outro pensamento em minha mente a não ser o que fazer durante o combate. Meditei um pouco antes de começar a preparar o almoço. Tomei um banho e almocei em seguida. Estava pronto.
Cheguei um pouco antes do horário marcado. A luta aconteceria em uma cidade do interior. Logo depois, meu Sensei chegou. Depois de cumprimentá-lo, conversamos um pouco. Era visível meu nervosismo, pois eu temia a perspectiva de uma derrota vergonhosa, uma vez que eu só me tornei um judoca recentemente.
Percebendo minha ansiedade, pousou a mão sobre meu ombro e falou calmamente:
— Quando estiver no tatame, David, não se importe em ganhar ou perder; apenas dê o melhor de si. Eu já me sinto muito feliz por você ter aceitado encarar esse desafio.
Essas palavras trouxeram um alívio automático para meus receios. Confesso que o medo de falhar é o meu pior inimigo. E, se não o subjugasse ali, naquele instante, depois seria tarde mais.
Seus outros discípulos também se apresentariam. Johann¹ (14 anos) era faixa cinza. A de Yuri (17 anos) já era azul, em vias de tornar-se amarela. Diogo (30 anos) era um faixa laranja que já foi vice-campeão estadual. E André (23 anos), bem... ele era faixa verde. Mesmo treinando numa outra academia, aceitara participar da apresentação como forma de gratidão ao Sensei que o tornou campeão capixaba, sendo que, atualmente, estava em busca do bicampeonato.
Johann e Yuri iriam conosco, enquanto encontraríamos Diogo e André no local programado para o evento. A viagem foi bastante tranquila, mesmo que um pouco demorada. Com o grupo já completo, esperávamos nossa vez conversando sobre amenidades e, claro, golpes de Judô.
André contava como o Seoi Nage², que Flávio Canto aplicava, diferenciava-se um pouco do normal mas bastante eficaz. Minha mente voltou a pensar no desastre que eu seria no tatame, pois não tinha a força suficiente nem a qualidade técnica ainda para sobressair-me, quem quer que fosse meu oponente. Aliás, André já conhecia os nossos adversários e fez questão de afirmar que seríamos superiores a eles. Eu gostaria muito de acreditar nisso como meus colegas acreditavam, porém, eu ainda estava tenso demais para interiorizar essas palavras de confiança.
A hora da verdade se aproximava. Depois de mostrarmos os fundamentos principais do Judô, começaram as lutas. A primeira ocorreu entre Johann e um judoca de idade e proporções físicas bem semelhantes. Johann perdeu, contudo sabíamos que ele não tinha mostrado muito entusiasmo com a luta, já que lutaria em um campeonato de jiujutsu no dia seguinte. Então era a minha vez de entrar no tatame.
Antes de descrever minha luta, gostaria de resumir o resultado das posteriores: Yuri e André venceram (como era esperado), enquanto Diogo não teve oportunidade de lutar, já que o horário do evento se estendeu mais do que os organizadores previram.
Enfim, à ação. Meu adversário era bem jovem e faixa cinza, o que parecia uma dupla desvantagem para mim, realmente. Eu não consegui conter meu nervosismo e isso foi um erro grave: ao primeiro golpe, caí. Felizmente, foi apenas um Yuko³. Levantei-me quase entregue à derrota iminente, quando olhei para meu Sensei e vi um sinal de positivo. Pude ler seus lábios dizendo “Você consegue, cara!”. Respirei fundo. Veio à minha mente imagens de várias personagens que, heroicamente, se sobressaíram em situações tão adversas quanto à minha: Uzumaki Naruto, Kurosaki Ichigo, Pegasus Seiya, Cloud Strife...
Fui com tudo que eu tinha. Ele tentava encaixar alguns golpes de perna, todavia minhas pernas pareciam estar fixas ao chão, de tão firmes que estavam. Num lance de sorte, ele abriu sua defesa e pude fazer um Ouchi Gari¹ que o derrubou. No chão, eu imobilizei-o em tempo de conseguir um Ippon³. Levantei bastante feliz... Olhei para os lados e encontrei meu Sensei sorrindo, orgulhoso pelo meu feito!
Enfim, eu venci.


¹ Os nomes foram trocados para preservar a identidade alheia e minha integridade jurídica (não quero ser processado afinal de contas).
² Seoi Nage (Arremesso de um ombro só) é golpe de técnica de mão com o arremeso a partir do ombro (o famoso balão), enquanto Ouchi Gari (Grande varrida de perna) é golpe de técnica de perna que passa a perna entre as do adversário para desequilibrá-lo.
³Yuko é a menor pontuação atualmente no Judô, equivalendo-se a um terço de pontuação; enquanto Wazari equivale à meio ponto; e Ippon, o ponto completo, equivalendo-se a nocaute.

25 de set. de 2009

2


18 anos mal completos e calouro de Design. Único universitário entre os amigos de infância pois todos estavam no pré-vestibular. Nem por isso perdi o contato com eles. Aliás, visitava frequentemente Manuela¹, grande amiga dos tempos do ensino fundamental, que morava a menos de um quarteirão da minha república.
De tanto visitá-la, sua irmã mais velha já se acostumara com minha presença. Mariana, estudante de pós-graduação de Psicologia, fazia sala para mim enquanto Manuela não chegava. Conversávamos animadamente sobre Arte, Literatura, Psicologia e áreas afins. E quanto mais conversávamos, mais eu percebia que a nossa afinidade era bem maior do que aquela que existia entre mim e sua irmã. Com o tempo, visitava a Mariana em vez de Manuela, que nem se importava muito, já que estava apaixonada por um rapaz de sua sala que tomava todo seu tempo e sua mente.
Um dia, decidi convidar Mariana para um vernissage no principal Museu daqui. Sem demora, ela aceitou. No horário marcado, saímos em seu carro e fomos lá comer, bebericar um pouco, conversar com amigos e, claro, apreciar as obras expostas de um artista paraibano.
Levemente bêbados, decidimos esticar a noite em algum barzinho próximo a nossos lares, porque, inacreditavelmente, não faltava assunto entre a gente. Depois de algumas rodadas de chope, ela me confidenciou algo que não me deixou chocado, mesmo que ainda ficasse surpreso. Sim, Mariana era lésbica e tinha um namoro de quatro anos. Depois da revelação, pude perceber em seu olhar a vontade de que eu também me revelasse homossexual a ela.
Um pouco constrangido, uma vez que eu era heterossexual ainda, fingi que também era gay. Ela, obviamente, não acreditou, mas nem por isso me repreendeu; de certa forma, o laço de confiança já envolvia nossa amizade nesses tipos de confidências mais íntimas. Assim, perguntei quanto conheceria Fabíola (carinhosamente, Fabi) e ela me propôs que seríamos apresentados numa oportunidade bastante peculiar. Mariana disse-me então:
— Que tal conhecer a Fabi e, de quebra, ir conosco a uma Boate GLS (a sigla da época)?
Minha curiosidade foi duplamente instigada: queria conhecer Fabi e saber como era uma Boate Gay de fato. Por nunca ter entrado em uma, eu imaginei que eu precisaria adequar-me ao estilo de vestimenta e de atitude. Os poucos amigos gays que colecionei desde que entrei na Universidade eram todos descolados: pessoas cultas e bastante ligadas ao que de melhor existia em relação às Artes, Música, Moda, Cinema, Literatura e afins.
Enfim, supus que deveria vestir como um verdadeiro fashionista. Ou seja, camiseta suplex preta com costuras customizadas e estampa dripping prateada, calça vintage xadrez em tons cinzentos (herança de vovô), All Star clássico preto e um conjunto de acessórios prateados: anéis, bracelete, cordão de enormes bolas e protetor de orelha removível, já que meus pais jamais poderiam ver o próprio filho usando tais apetrechos.
Quando desci do meu prédio para encontrar Mariana, num vestido sóbrio porém lindo, notei um leve espanto em relação ao meu look. Contudo, achei que foi motivado apenas pela falta de convivência com aquele tipo de estilo. Fomos então em direção ao bairro onde Fabi morava e, todos juntos, partimos em direção a tal Boate. Engraçado que Fabi disse que eu estava lindo! Não sei até hoje se disse aquilo por ironia ou por gentileza. Na dúvida, gentileza sempre.
A ver o desconforto da namorada de minha amiga, falei que era gay para tentar quebrar o gelo. Mariana me desmentiu na hora, o que fez Fabi rir e deixar o clima mais descontraído entre nós. Logo, estranhei a demora para chegarmos ao tal local. Bairro distante da cidade vizinha, rua sem pavimentação, terrenos baldios em torno do imóvel. Tudo conspirava para que a Boate fosse bem moderna. Que ilusão!
Já quando entrávamos, pude observar que todos os homens vestiam camisas polo dentro da calça com cinto e sapato combinados, exceto por algumas drag queens e eu mesmo, que me vesti para ir a um clube londrino e cheguei a uma danceteria que parecia bem decadente.
Mesmo assim, meu entusiasmo não foi dinamitado nesse momento. Perguntei às garotas onde se localizava a pista de dança e apontaram em direção a um local contíguo ao bar, onde pedi apenas água, por medo do tipo de bebida que serviam ali. Quando pisei na pista, começou a tocar "It's Not Right But It's Okay". Óbvio. Não me dei por vencido e torci para que a próxima música fosse mais cool. Que desilusão!
Quem disse que pude dançar um só Drum'n Bass ou um House digno? (Por favor, "Hey Boy, Hey Girl" do Chemical Brothers, de 1999, e eles ainda nessa de Celine Dion Remix?! Tenha dó...)
Indignado, decidi juntar-me a minhas amigas para reclamar do que estava ruim. Foi só eu me sentar que apareceu Alessandro, uma bichinha do mesmo curso da garota de quem eu estava afim há algum tempo. Com um ar de surpresa e um risinho cínico na cara, me cumprimentou. Devolvi o cumprimento fingindo naturalidade. Na minha mente, só havia espaço para a frase "Não pode ficar pior".
Então, pior ficou.
O som ambiente foi abruptamente desligado e uma voz ao microfone anunciava o Concurso da Miss Gay Espírito Santo². Eu juro que fiquei sem reação: daquele instante em diante, perdi a noção do que fazia ali naquele buraco justamente na noite desse concurso!
Mariana notou meu desconforto e prometeu-me que íamos embora logo que escolhessem a vencedora. Por gentileza, disse que estava tudo bem porque estava me divertindo muito com tudo aquilo... Eu sou um péssimo mentiroso.
— Palmas para Naomi Kidman! Mais palmas para Naomi Kidman, meu povo! — esgoelava-se ao microfone o(a) locutor(a) do evento.
Escolhida a campeã, não nos detivemos por mais de um minuto naquela Boate. Fui embora com um sorriso escancaradamente falso no rosto e a certeza de que jamais pisaria novamente naquele antro!
Anos depois, ainda cumpro rigorosamente essa decisão.


¹ Os nomes foram trocados para preservar a identidade alheia e minha integridade jurídica (não quero ser processado afinal de contas).
² Sim, sou capixaba.

24 de set. de 2009

1


Hoje, pensei em suicídio. Não o meu, que fique claro: deixei que minha mente elaborasse uma história cuja personagem principal decide por fim à própria vida.
Esse indivíduo, carregando a tiracolo um banquinho e um rolo de corda, parte em busca da árvore perfeita para se enforcar. Durante seu caminho, cruza com as mais variadas pessoas (ou bastante familiares, ou completas desconhecidas), que deixam ainda mais tortuoso o caminho que escolheu seguir.
Cada vez que se depara com alguém, o sujeito tem que confrontar as decepções que permeiam sua vida: talvez confrontar-se com as decepções seja a forma mais dolorida de angústia com a qual temos que lidar, no momento que só desejávamos um bom lugar para acabar com a nossa própria vida.
Tais figuras sempre se encontram sob a copa de alguma árvore; há as que o esperam, como a figura de seu pai ou da sua ex-namorada, e outras cujo destino se encarrega de colocá-las ali (como o caso de uma idosa a fazer calmamente seu tricô ou um homem que tira uma sesta corriqueira), exatamente quando ele se aproxima, na esperança de que descobriu a tão sonhada localização de sua forca.
Não consigo transcrever os diálogos que são travados entre essas personagens e ele. Não ainda. É cedo demais para afirmar do que são feitos ou do que se tratam. Apenas tenho como certo que são densos, duros, inflexíveis. Acredito que devam ser tão pesados que minha personagem chega a questionar a própria convicção de que anseia sinceramente suicidar-se. Faz parte do ser humano a relutância de certas certezas, afinal.
Será que ele tomou a direção certa?
Existirá realmente essa árvore perfeita?
Poderá o suicídio salvá-lo de toda a agonia que tem suportado?
Dada a empatia que se cria entre criador e criatura (assim, como Rodrigo e Macabéa, vide “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector), eu não reluto em dar logo um fim ao sofrimento de meu pobre herói: ele, finalmente, encontra a árvore perfeita.
Tronco denso, galhos duros, madeira inflexível, copa frondosa, folhas em tom de verde-escuro e o melhor: sem qualquer ser humano por perto para observar seu ato com repreensão.
Assim, sem pestanejar, ele passa a corda em volta do galho por duas vezes para dar-lhe maior firmeza e amarra uma das suas pontas em torno da peça de madeira que une um par de pernas do banquinho, repetindo o mesmo nó com a outra ponta na peça que une o par restante.
O banquinho, então virado de cabeça pra baixo, flutua um pouco acima dos seus joelhos. Ele puxa as cordas para certificar-se que estão realmente seguras e senta-se no banquinho.
Toma impulso e balança de olhos bem fechados. Uma brisa acaricia seu rosto entregue a um tipo indescritível de felicidade que nós sentimos muito pouco, pois são raras as vezes que se percebe sua existência: uma felicidade que, à beira de darmos um fim à nossa própria vida, surge para que nos demos, enfim, por inteiro à vida como se a ela (e somente a ela) pertencêssemos.

P.S.: Sim, já tentei três tentativas de suicídio. O pleonasmo não é gratuito, visto que nem cheguei realmente a concretizar o ato suicida para que fosse mal sucedido (ou bem sucedido, dependendo do ponto de vista). Contudo, contarei esses episódios da minha vida em outra ocasião, pois cada tentativa merece um texto distinto.

23 de set. de 2009

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No princípio, era o adjunto adverbial.
Seria mais simples se tratasse da obviedade metalinguística ao invés de relatar sobre o universo em expansão dentro de mim. Big Bang! Talvez escrever sobre a primeira lembrança que tenho da minha vida faça mais sentido a este pontapé textual do que quaisquer pretensões de parecer interessante.
Pois bem, a memória mais antiga que possuo é feita de chuva e lama: eu brincava no imenso quintal construindo represas delicadas com pedras e gravetos, desviando os filetes de água que desciam de uma encosta vizinha e abrindo pequenas crateras onde desaguavam esses pequeninos córregos. Criava a hidrografia de um território só meu e, por consequência, a geografia de todo meu universo particular. Montanhas, rios, planaltos, cachoeiras, depressões, lagos e demais acidentes preenchiam o vazio de um Deus em forma de criança que raramente tinha alguma humanidade disponível para divertir-se.
Por mais que eu seja ateu, entendo o que motivou Deus (qualquer um deles) a criar o ser humano: a Solidão.
Palavra pesada, solidão é o sentimento com que mais convivo desde a primeira vez que me dei conta que eu era soberano numa terra inóspita. Ainda que a chuva tornasse o chão mais macio e úmido, eu e meu continente éramos apenas aridez (aridez e solidão).
Não estou certo, mas acredito que muitas vezes chorava (as lágrimas misturando-se às gotas de chuva formam uma imagem poeticamente bela, mesmo que jamais existente) pelo vazio em meio às voltas que eu dava em torno dos meus domínios, como o traço que retorna ao princípio para fechar-se em zero, encerrando o vazio dentro de si para que não se espalhe e contamine o que há de valoroso ao seu redor.
Porém, não é possível tornar-se um sem antes abandonar o zero. Em resumo: o tempo permitiu que esse ponto singular e minúsculo transbordasse e explodisse para todas as direções. Assim, eu e o universo compartilhamos de uma mesma teoria para o princípio de nossa existência... destinados ao infinito e além.
Big Bang!
Minha foto
Reino enquanto houver um Reino.

Espectadores

Aviso
Todas as pessoas mencionadas em meus textos tiveram seus nomes trocados para preservar a identidade alheia e minha integridade jurídica...
Afinal de contas, não quero ser processado!